A
Globo foi condenada no mês passado a pagar uma indenização de R$ 200 mil a um
policial militar que, erroneamente, acusara de ter participado do estupro de
uma menina de 11 anos dentro de uma delegacia.
Além
do valor da indenização, considerado alto, chama a atenção o fato de o caso ter
ocorrido há quase 21 anos.
O
sargento E.R.J., hoje com 41 anos, tinha apenas 11 meses de Polícia Militar na
época. Ele estava de plantão na delegacia de Itapecerica da Serra (Grande São
Paulo) no dia 19 de novembro de 1991. Foi preso junto com outros quatro policiais
civis.
O
caso foi noticiado pelo telejornal local da Globo, na época chamado de São
Paulo Já. No Fantástico, ilustrou com destaque uma reportagem sobre
policiais que viraram bandidos.
Lição de jornalismo
Assim
relata a juíza Alena Cotrim Bizzarro, na sentença que condenou a Globo, dando
uma lição de jornalismo:
"A requerida (Globo) alega que
apenas cumpriu sua função de informar os fatos, mas não é isso o que se
constata quando se assiste ao DVD acostado aos autos pela parte autora (o
policial). Para que cumprisse o dever de informar, deveria apenas ter divulgado
que o requerente (o policial) era acusado da prática do delito, jamais afirmado
que ele praticou o delito, como foi feito".
E
prossegue:
"De fato, na reportagem exibida
pelo Fantástico há narração do suposto crime de estupro de forma
direta, objetiva, como se não houvesse dúvidas de sua prática [...]. Narrando
os fatos afirmativamente, menciona a reportagem com relação à vítima (a menor):
'Nesse período, ela foi estuprada por dois carcereiros, um investigador, pelo
operador de telex e por um soldado da Polícia Militar que fazia ronda na
delegacia'".
A
reportagem encerrava mostrando o rosto de E.R.J., o soldado da PM que fazia
ronda na delegacia, e informava que ele confessara o crime.
Ocorre
que o policial nunca confessou o estupro e ficou marcado por isso.
Alguns
meses depois, o repórter policial Gil Gomes, então no Aqui Agora, do SBT,
entrevistou a menina, e ela confessou que acusou os policiais injustamente.
A
garota revelou que teria agido a mando de um delegado. Soube-se, então, que
acusação de era uma "armação" do delegado, que teria propositalmente
"plantado" a menor na delegacia.
O
delegado teria como alvo o investigador que estava de plantão naquele dia. O
investigador supostamente sabia da participação do delegado em um esquema de
venda de sentenças judiciais.
Inferno
E.R.J.
ficou preso durante um ano e meio. Foi ao inferno e voltou, costuma dizer.
Hoje, está casado e tem filhos. Um dos policiais civis teve destino pior: se
envolveu com drogas, perdeu tudo.
Inconformado
com a acusação de que teria confessado o estupro, o PM tentou processar a Globo
três vezes. Seus advogados, conta, sempre perdiam prazo ou deixavam de pagar
alguma taxa de valor irrisório, mas que impediam o andamento do processo.
Até
que em 2010 ele conheceu o advogado Álvaro Nunes Júnior. Nunes pediu R$ 300 mil
de indenização. "Ele foi acusado de uma coisa terrível", justifica o
advogado. A Justiça concedeu R$ 200 mil.
Cabe
recurso.
Procurada,
a Globo não comentou o caso, por estar sub judice.
Do
blog do Daniel Castro | Imagem: Reprodução
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